Ana Júlia Santos Lopes, aluna do Curso Técnico em Aquicultura da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ/UFRN), esteve em Boston, nos Estados Unidos, para participar da 68ª edição da Harvard Model United Nations (HMUN). Com uma equipe formada por mais quatro estudantes do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), a jovem fez parte de uma das simulações de relações internacionais de maior importância e reconhecimento do mundo.
A participação nas simulações da Organização das Nações Unidas (ONU) já é de longa data: depois de mais de sete meses de preparação, em maio de 2021 a estudante fez parte do 1º Torneio Brasileiro de Debates do Ensino Médio, conquistando a medalha de bronze na competição, onde participaram 158 estudantes de 25 estados do Brasil. Além da medalha, a aluna carrega o reconhecimento específico das sete simulações em que participou: uma melhor delegada, três menções honrosas e uma menção oral. Nessas simulações da ONU, já representou a Dinamarca, o Chile, a França e o Brasil.
Após as participações e conquistas, em julho de 2021 veio a tão aguardada notícia para Ana Júlia: a classificação para a 68ª edição da HMUN. “Eu estava fazendo uma prova de química na hora e eu vi todo mundo me ligando, então pensei: ‘meu Deus, saiu o resultado da aplicação de Harvard!’. Quando eu vi que todo mundo estava comemorando, comecei a chorar na hora!”, relembra.
Em janeiro deste ano, a aluna desembarcou em Boston com os colegas de equipe para a Simulação da ONU, realizada entre os dias 27 e 30. Ana Júlia, junto com os amigos, que também formam o Clube de Relações Internacionais Sérgio Vieira de Mello (CRISVM), não contiveram a emoção ao chegar ao local de realização do evento. “Quando nós chegamos em Massachusetts, ficamos muito emocionados. Primeiro, por conseguir ter acesso a uma oportunidade tão incrível quanto essa e, segundo, por ter a chance de representar o nosso país, estado e instituições de ensino dentro da melhor Simulação da ONU do mundo. Também estávamos um pouco ansiosos e animados para dar inícios às atividades diplomáticas nos comitês”, comenta. A jovem também fala sobre as primeiras atividades por lá.
“É no discurso inicial que a delegação tem o seu primeiro contato com o restante do comitê. Nesse discurso, a delegação cumprimenta o comitê e fala quais as ideias que serão defendidas por aquele país acerca do tema que foi determinado. Na minha delegação, nós éramos cinco, mas cada um ficou em um comitê diferente, porém ficamos representando o mesmo país. Na situação do meu comitê, como era em dupla, eu acabei formando dupla com a minha amiga de delegação do IFPE e Instituto Internacional Despertando Vocações (IIDV), entretanto, os outros ficaram em comitês distintos”, relata.
Na primeira sessão realizada, cada delegado, ou seja, cada participante, deveria ir para o seu respectivo comitê e iniciar o debate diplomático durante os horários das sessões. Juntamente com uma amiga, Ana Júlia fez parte do United Nations Human Rights Council, um comitê da Organização das Nações Unidas que visa cuidar das questões relativas aos Direitos Humanos. Além disso, o comitê tratou sobre como a Covid-19 impactou no tráfico humano. “Ao longo das sessões, eu e a minha dupla tivemos que propor ideias e realizar argumentações visando propor soluções para o combate ao tráfico humano, sempre respeitando a política interna e externa do país que estávamos representando. Toda essa etapa foi extremamente enriquecedora, visto que nós conseguimos compreender na prática as questões diplomáticas da Tailândia, país que representamos. Também conseguimos analisar as políticas das outras delegações presentes, fazer acordos diversos com as nações, formar blocos e colaborar com elas. Tudo isso inspirado nos conceitos das Relações Internacionais”, explica.
O evento contou com sete sessões de comitês que normalmente aconteciam das 14h até às 23h ou das 9h até às 18h. Após as sessões, os integrantes comentavam sobre como o comitê estava indo. Em seguida, os estudantes já se preparavam para as próximas que seriam realizadas, estudando termos importantes, resoluções da própria ONU e organizando tópicos de debates moderados e não moderados que queriam ressaltar ao longo da participação da delegação no comitê de Direitos Humanos. Na simulação, a equipe representou a Tailândia. “Foi uma experiência diferente e surpreendente. Eu nunca tinha representado a Tailândia antes e foi muito bom estudar mais sobre uma cultura que eu não conhecia tanto. Para representar a Tailândia na simulação, eu precisei ver o posicionamento do país acerca do comitê, compreender mais sobre a história desse país, entender a cultura e ver como são as pessoas. Eu acredito que esse entendimento mais prático que as Simulações da ONU nos proporcionam é algo sensacional, porque hoje eu consigo entender, na prática, como as relações, colaborações e negociações da Tailândia com o restante do mundo funcionam”, diz a estudante.
Novas culturas
“Eu tive a oportunidade de conhecer pessoas de diversos locais e com culturas diferentes, como por exemplo, da China, Venezuela, Massachusetts, Nova York, Japão e vários outros. Quando estávamos conversando fora das sessões, falávamos sobre a situação geopolítica dos nossos países, comidas típicas, músicas preferidas e também tentávamos falar em outras línguas. Tentei aprender chinês e falar espanhol com alguns delegados que conheci. Também ensinei algumas palavras em português para eles, falei sobre a EAJ, sobre quem eu era e também ouvi isso deles. Além de apenas delegados do Human Rights Council, eu ganhei amigos que, sem dúvidas, vou levar para o resto da minha vida”, comenta Ana Júlia acerca das experiências compartilhadas entre os estudantes que fizeram parte da simulação.
Jovens protagonistas e as mudanças para o mundo
A estudante vê o evento como essencial para o desenvolvimento educacional e estudantil, pois faz com que os alunos possam analisar o mundo de uma forma diferente, além de apresentar a importância no protagonismo dos jovens. “Essas ações têm a capacidade de mostrar para diversos outros jovens que nós somos a verdadeira mudança, que nunca é cedo demais para começar a entender sobre mundo, perceber os problemas globais que enfrentamos e, mais que isso, nunca é cedo demais para tentar resolver tais entraves”, elucida.
E continua: “Em atividades como essa conseguimos perceber que o protagonismo estudantil é importantíssimo para inspirar outros jovens a seguirem o mesmo caminho, porque se muda o mundo em conjunto, não sozinho. Ações como essas nos mostram que nós somos o futuro e que não devemos apenas aceitar os problemas do jeito que eles são, mas sim reunir todos os nossos conhecimentos e esforços para mudar esse panorama, porque é sim possível fazer isso. Ações assim mostram que além de identificarmos os problemas que nos cercam, nós também somos capazes de resolvê-los”.
Representar estudantes e os próximos passos
Para Ana Júlia, mesmo achando que não seria possível, estar em Harvard falando sobre as temáticas propostas e representando os estudantes do RN e, em especial, da EAJ, foi único. “A sensação é indescritível. Eu realmente não tenho palavras para descrever o quanto eu me sinto feliz e honrada por ter representado tantos estudantes ao longo do evento. Muitas vezes eu não acreditei que isso fosse possível, eu não acreditava que tão jovem eu conseguiria estar em um evento organizado por Harvard discutindo sobre problemáticas globais com outros estudantes de destaque. Portanto, eu gostaria que a minha experiência inspirasse muitos outros jovens. Quero que eles enxerguem em mim que sim, é possível. Que sim, eles também podem passar pela mesma experiência, porque, se teve uma coisa que eu aprendi ao longo dessa jornada, é que não existem limites para os nossos sonhos e nós somos capazes de realizar todos eles”, diz a aluna sobre o que deseja para os demais discentes.
E finaliza com um objetivo que tem para a escola onde está finalizando o ensino médio: “O próximo passo é fundar um Clube de Relações Internacionais na EAJ. O Clube terá como objetivo realizar debates, Simulações da ONU e ajudar os estudantes a compreenderem mais sobre o mundo através das Relações Internacionais. Assim, o discente poderá desenvolver habilidades relacionadas com a oratória, negociação, storytelling, escrita, e conseguirá aprimorar o seu pensamento crítico e melhorar suas habilidades em geografia e história. Com essa iniciativa, eu busco engajar mais jovens nessas realizações para que essas atividades diplomáticas os inspirem. Eu posso dizer com toda a certeza que as Simulações da ONU mudaram não só a minha vida, mas também a minha forma de enxergar o mundo”.
Simulações da ONU
A Harvard Model United Nations é uma simulação de relações internacionais realizada em Boston e acontece anualmente para alunos do ensino médio. Os alunos envolvidos têm a chance de obter uma visão mais próxima sobre o funcionamento da ONU e o dinamismo das relações internacionais. Os participantes também encontram na HMUN uma oportunidade para praticar as habilidades em oratória, liderança, elaboração de soluções inovadoras e criativas.
A avaliação que os estudantes enfrentaram para a aprovação é a elaboração de quatro redações em inglês, enviadas diretamente para responsáveis em Harvard. Os alunos podem participar da simulação através do site da própria HMUN. Ao realizar a inscrição, a delegação precisa submeter as redações, explicando suas preferências de países, suas conquistas em simulações e seus projetos. A partir disso, eles avaliam o perfil da delegação com base nas respostas, identificando se possuem características de liderança estudantil e, em seguida, enviam o resultado da aplicação por e-mail.
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